Filosofia & Ciências
27/01/2017
Em Portugal, projeto promove arte urbana e inclusão levando idosos às ruas para grafitar
Marieta Cazarré | Agência Brasil | LisboaA arquiteta portuguesa Lara Seixo Rodrigues, de 37 anos, criou em 2012 o projeto Lata 65, que leva idosos para as ruas das cidades, para aprenderem técnicas de intervenção urbana e grafitarem paredes e muros. A iniciativa quer mostrar que a idade é apenas um número.
Iniciado em Lisboa e replicado em várias cidades de Portugal, EUA e Brasil, projeto Lata 65 ensina técnicas de intervenção urbana e grafite a idosos | Rui Gaiola/Lata 65
O resultado do projeto surpreendeu a idealizadora, que já viajou por diversas cidades em Portugal, esteve no Brasil e nos Estados Unidos, e têm viagens marcadas para fazer workshops na Espanha. Para dar continuidade ao projeto, Lara busca apoios locais de orçamento participativo e vende camisetas e broches do projeto pela internet.
Até o momento, 257 idosos já participaram de 24 workshops ministrados em ambientes descontraídos para facilitar a aprendizagem de técnicas de intervenção nas ruas. A média de idade entre os alunos é 72 anos, e o mais idoso tinha 102 anos. Para os participantes não é apenas uma oportunidade para sair e fazer amizades, mas também um momento de desfrutar da liberdade com criatividade.
Para Lara, aproximar os idosos de formas de expressão habitualmente associadas aos mais novos é uma maneira de mostrar que a arte urbana tem o poder de promover e valorizar a democratização do acesso à arte contemporânea, pela simplicidade e naturalidade com que atinge as pessoas.
Até o momento, 257 idosos participaram de 24 workshops ministrados em ambientes descontraídos para facilitar a aprendizagem de técnicas de intervenção nas ruas | Rui Gaiola/Lata 65
No Brasil, a iniciativa aconteceu em São Paulo, em outubro do ano passado, a partir de um convite do SESC (Serviço Social do Comércio). De acordo com Lara, a experiência foi extremamente positiva e, para sua surpresa, apesar de o Brasil ser considerado a "Meca" do grafite, a relação dos idosos com a arte urbana é muito semelhante à portuguesa.
”Eu tinha receio de como seria [dar o workshop] no Brasil, pelo contato diário que as pessoas têm com a arte urbana. Mas percebi que, na verdade, as perguntas e curiosidades dos idosos são as mesmas”, afirma Lara.
Os cursos têm duração de oito a dez horas, divididas em dois dias. A primeira parte é teórica e visual, onde os alunos vão aprender sobre a história do grafite, quem foram os precursores, quais as técnicas existentes, etc. A segunda parte é prática e os idosos aprendem a preparar moldes e saem para pintar o muro.
Lara conta que há idosos que têm dificuldades motoras e que precisam ser ajudados e incentivados. Vê-los em ação é extremamente gratificante. ”Há ali [no momento em que estão pintando] uns cliques que os transformam".
Esta notícia foi publicada no site Opera Mundi em 26 de janeiro de 2017. Todas as informações nela contidas são de responsabilidade da autora.